Label FM

2008-08-25

Cenas do Quotidiano (Tomo I)

Cenário:
Carro. Saída de casa pela manhã para irmos para o trabalho.
Eu:
- Hummm...! (inspirando fortemente) Adoro este cheio pela manhã, de quando ainda estamos no verão, mas chegam as primeiras chuvas e o cheiro da terra molhada é mais forte! Adoro!
Ela:
- A mim só me cheira a mijo!
Eu:
- ...?!?!?!?!?!?...

2008-08-21

O tempo...

... é uma boa medida para se contabilizar quem somos, bem como podermos avaliar o quanto crescemos. Para trás, algures no passado, descansam as esfoladelas de joelhos, os "galos" e as cambalhotas na erva terreno abaixo. Ganham-se as esfoladelas na alma, os "galos" no espírito e as cambalhotas da vida e do trabalho.
Distantes de quem éramos, mas próximos dessa meninice saudosa, é assim que analiso o tempo: a forma como as recordações se vão tornando mais "transparentes" e de uma realidade cada vez mais diferente, um pouco como se fosse um filme...
Envelheci, mas o tempo, sempre sábio, deu-me traquejo e deu-me o amor, onde me conforto e lambo as feridas, onde o espaço entre duas pessoas é pequeno demais para caber o grão da ampulheta que nos mede. Graças a este amor estou a saber levar a vida e as mágoas de uma forma madura.
E quando pensamos que não há mais amor, que sentir mais do que já sentimos é impossível, acordamos no dia seguinte, aparece um novo desafio, um novo obstáculo e, em conjunto, superamos tudo e descobrimos que é possível confiar mais, amar mais. Ensina-me a vida que o amor não se esgota ou é estanque: evolui e cresce, aprende e amadurece. O amor é um sentimento mutante e pleno que preenche a minha alma e que me ensina a viver a vida.
Amo-te cada vez mais, com uma pureza quase insuportável, preciso que o saibas (mas tu sabes...).

2008-08-11

...

Antes de mais ouçam a música que aqui coloquei e sintam como é linda...

Depois passem à frente e encarem este meu post como uma catarse completamente crua, ensanguentada e necessária, como se a verbalização para o espaço longíquo do ciberespaço afastasse de mim o sentimento e mo possa devolver como se meu já não fosse...

A minha mãe está a morrer. Secamente é mais fácil de o dizer e de o encarar de frente. Agora posso despir-me de quem sou, fui, serei e olhar este momento como se de um filme se tratasse. Freud explicaria este "id", esta "coisa"... Freud nem ninguém jamais conseguirão transcrever em palavras e em teorias o sentimento denso, convulsionante e pungente que se espeta na alma e a esventra... A palavra é o início de tudo, mas é o silêncio que se impõe no fim de tudo, de uma vida, por que não há como simplesmente explicar ou exemplificar. Talvez um grito rasgado e lancinante seja o mais parecido, mas mesmo assim não mostra a carne rasgada e o caos negro.

Perder o primeiro amor, o mais verdadeiro de todos, o ponto de referência supremo, a nossa história é algo de inqualificável e de revoltante. Esgotam-se argumentos e esperanças nos corredores de hospitais, de tratamentos que desejamos profundamente que sejam miraculosos, desejamos a eternidade mas, em paralelo, o desejo terno e cheio de amor de que tudo termine rápido, sem dor e sofrimento para a pessoa que nos deu tudo... Nao dá para explicar esta dicotomia, estes pólos negativos e positivos, entre a derrota e as pequenas vitórias do dia-a-dia...

Um dia escrever-te-ei, mãe, todas as cores da minha alma, abrir-te-ei todos os poros da minha pele... um dia chegar-me-á essa coragem e seremos honestas e sinceras, como merecemos ser uma com a outra, porque o amor absoluto só pode ser assim: límpido.