Label FM

2009-04-09

O que me fazia falta?

Numa época em que tudo é possível (até coelhos darem ovos), será que poderiam preparar-me um cocktail de Prozac?

A gerência agradece.

2009-04-04

Jogo

...Purgação...
...Catarse...
...Dilúvio...
...Torrente...
...Corrente...
...Maresia...
...Ventania...
...Tempestade...
...Escuridão...
...Preto...
...Vácuo...
...Buraco...
...Cova...
...Morte...
...
... a liberdade final, única e completa repousa
na densidade porosa das palavras...
...
...Como um pântano...
...Areias movediças...
...Estagnação...
...Beco sem saída...
...
...Os restos da pilhagem...
...Os troncos negros das chamas vorazes...
...Arde...
...Consome...
...Come...
...Insaciavelmente...
...Lascivamente...
...Desumanamente...
...
...Finalmente...
...A palavra já não mente...
...
.Ponto.

2009-03-17

Passado

As ondas hertezianas aqui do local de trabalho são as da RFM (podia ser pior...) e, neste exacto momento, irrompe a Brandi Carlile com "the story"... Gosto desta música desde que a ouvi pela primeira vez na televisão, num anúncio qualquer (ficou a música, desapareceu a marca...) e desde essa altura que tenho um misto de prazer/dor ao ouvi-la... Que dicotomia esta... Já diria o poeta Catulo: Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris? Nescio, sed fieri sentio et excrucior. Se bem me lembro dos dias passados na faculdade, traduz-se genericamente assim: "Amo e odeio. Porque é que o faço, perguntam-me. Não sei, mas é o que se passa e arde-me". O contexto é completamente do distinto do meu, mas aplica-se-me que nem uma luva de pelica, daquelas com que se iniciavam os duelos...
Talvez porque do passado recente esta música marque os dias de angústia que passei a despedir-me da minha mãe.
Tenho saudades tuas... faz-me falta o telefonema diário entre as 20H00 e as 21H00 e as perguntas banais de quem queria fazer parte da minha vida. Por estranho que pareça hoje és-me mais presente, mas de uma forma diferente... Não sou religiosa, não existe em mim um pingo de espiritualidade que me leve a dizer "até já". Para mim o fim é um ponto final e, talvez por isso, tenha tentado encontrar essa esperança que é a fé nestes últimos meses mas, por mais portas que abra sou dona de um cepticismo do tamanho de mim própria e nem voltar ao cemitério depois de cinco meses mexeu comigo de uma forma transcendente...
Nestes últimos dias acho que me ia saber bem poder ir a casa, sentar-me e falar um pouco contigo. O teu exemplo de mulher e pessoa sempre me inspirou e ia saber-me bem ouvir-te, mesmo com a imensidão de coisas que sempre nos separaram... Agora, parece-me, cabe-me seguir-te as pisadas e encostar-me aos teus ensinamentos e a tudo aquilo que me é próximo e confortável.

Vaya con Dios

Se existem músicas que são transversais na minha vida, esta - ou qualquer uma outra - dos Vaya con Dios é uma delas. Adoro a musicalidade e a cadência e, ao vivo, o espectáculo c'est magnifique! Atrever-me-ia a dizer que ao vivo batem a gravação em estúdio!
Aconselho à mínima oportunidade!

2009-03-16

Em tempos (idos, muito idos!) participei num projecto em que, a várias mãos, escrevemos um livro. Foi uma das experiências mais interessantes pela qual passei e sempre achei que seria por aí o meu caminho: pelas letras, pelos cafés e tertúlias, pelas horas perdidas imersas nas palavras e pelo grato prazer de criar... Hoje olho as palavras com um respeito desmedido e sinto uma incapacidade atordoante que tolhe os gestos e as vontades... Depois de 10 anos voltei a rabiscar e isso está a fazer-me bem! Volto à purgação infalível destas milhentas sensações com as quais muitas vezes me engasgo e isso dá-me um prazer para lá do explicável!

A arte do "apagão"

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Fernando Pessoa

2009-03-14

Será dos 30?

Dou por mim a ter saudades do passado e a olhar para certas decisões pretéritas e a questioná-las veementemente, a perguntar-me onde estaria agora se tivesse seguido noutra direcção e se estaria mais feliz, ou menos feliz. Tenho essa utopia: a de ser feliz, mas é como se essa sensação, quando agarrada, logo de mim fugisse ou então corro que nem louca atrás dela, ao ponto de já nem saber quem sou, porque insisto em achar que se fizer alguém feliz, serei feliz, e isso, meus caros, é uma premissa muito errada!... Os outros não se questionam sobre isso! Há demasiado para resolver e eu sem força ou paciência para arregaçar as mangas e encarar a realidade.
No passado jamais me imaginaria quem sou hoje e não sei se isso é bom ou não... há uma centelha de orgulho no percurso, porque fui boa em tudo o que fiz e nelas coloquei todo o meu melhor. Já fiz tantas coisas que nem tenho paciência para dissecá-las! Sempre houve o fulgor da juventude para aguentar e para continuar a lutar, mas neste momento sinto que tenho que parar na estação de serviço desta auto-estrada e respirar fundo, para saber ao certo a que tudo isto me leva e quem isto tudo me tornará, se está suficientemente próximo dos meus limites pessoais de conforto e prazer. Ou mesmo para saber que limites são esses!
Não sei se as minhas preocupações actuais com bancos, encomendas, clientes, facturas, calculadora, dinheiro e crise são as ideiais... desgastam-me enormemente e sinto-me cansada e sem inspiração. Deito-me com números, acordo com números! Dou por mim a questionar-me que tipo de pessoa sou, por causa do meu percurso tão díspar: a pessoa versátil que faz qualquer coisa e vai passando por projectos giros e diferentes, ou a pessoa que ainda não encaixou em nada do que fez e se limita a pular até acertar... Esta é uma questão pertinente, porque sinto-me a entrar na fase do "salto" e do pensar o que seria fazer outra coisa qualquer! Sinto falta da poesia!
Preciso, realmente, de paixão, em todas as vertentes da minha pessoa e como por mim própria ainda não me consegui apaixonar (infelizmente), vou projectando esse vazio em outras pessoas ou outras situações e acontecimentos. O problema é quando não consigo tirar paixão das coisas e elas começam a ser amorfas e desenquadradas... É por aí que ando, numa espécie de balanço de 30 anos de vida, a querer que a minha sombra se decida por mim, porque eu não o quero fazer!
No fundo resumir-se-ia, como qualquer psicanalista básico me diria, à questão da idade, de esta ser uma fase de amadurecimento completo em que de facto somos adultos e temos que encarar as responsabilidades, os problemas e tudo o mais por conta própria! Mas este barco está difícil de bolear... Entendo que temos que abdicar de coisas para conquistar outras, mas as coisas de que abdico fazem-me falta e são-me tão inerentes que me começo a desconhecer... Não há acordo possível entre as partes! Falamos sempre da adolescência mas nessa altura podíamos fazer e desfazer quase sem consequências, agora a fase dos ensaios está a terminar e a sedimentação está-me a custar um pouco porque me sinto desamparada e sem conseguir explicar isto a ninguém de forma menos ridícula, que é o que eu acho quando verbalizo, melhor, é o que me fazem sentir. Já diria Pessoa: "todas as carta de amor são ridículas!", ou foi o Campos?! Até isso, essa minha outra faceta, vou deletando.
Sobra-me este blog, a tornar-se rapidamente um muro de lamentações, mas que tem a vantagem de ser mudo e de ser grátis, dispensando psicanálise e terapias!

2008-12-24

"So this is Christmas..."

Finalmente chegamos a esta data, perfumada de arroz doce, filhoses e cuscurões, cheia de embrulhos e de luzinhas de Natal, com a casa cheia de família próxima e distante que se reúne. Lido desta forma parece que ambicionei por esta quadra todos os restantes 364 dias do ano, mas é mentira que o tenha feito. Por mim adiaria o Natal "ad aeternum" só para não registar mais nenhum Natal nas minhas memórias. Os que tive bastar-me-iam para o resto da minha vida. Tive natais felizes, cheios de cores e sabores, natais com toda a família, com sorrisos e palhaçadas. Em criança vibrava com ele, hoje não o suporto, embora tenha que admitir, lá no fundo, que ele tem um significado mais importante do que muitas vezes vemos nele: é no Natal que se reúne a família, que a cozinha se enche de tachos, panelas e frigideiras, em que o frio da rua se esgota com o calor das pessoas e do fogão. Já tive melhores natais do que outros, mas de todos eles guardei muitos sorrisos e gargalhadas.
Somos uma família gigantesca e, se na consoada éramos "apenas" 14, no dia 25 esse número multiplicava-se por, pelo menos, 6 ou 7. Era muita gente reunida! E vivia isso na pele, porque era em casa dos meus pais que se desenrolava esse avolumar de pessoas e de parvoíces, brincadeiras tontas ou registos mais sérios, embora a família toda junta seja uma comédia, raros são os que se queixam e fala-se muita coisa idiota, mesmo para todos se rirem.
Depois passam os anos e as brincadeiras de infância acabaram, vieram os copos, as "parties sem motivo aparente" (esse é mesmo o nome que se dava à coisa) e a vida seguia. Um dia, nem sei explicar onde, nem como ou porquê, o Natal deixou de fazer o mesmo "plim" que fazia, deixou de ser tão emocionante e conquistador, passei a viver uma vida dupla em que as perguntas "quando é que te casas?" me começaram a incomodar e me fui afastando discretamente... Quando vivemos assim, deixamos de nos sentir parte do Natal, porque ele não o é em completo, falta uma pessoa ali, falta a pessoa com quem partilhamos a mesma vida e, por essa pessoa ser do mesmo sexo do que eu, existe a obrigatoriedade de a apresentarmos como "amiga" e uma "amiga" não passa connosco a consoada nem o dia de Natal, até porque ela tem família. Esta duplicidade afastou-me da família e sempre me custou imenso que isso acontecesse, porque se vive em dimensões paralelas, entre o que somos na realidade e o que permitimos que nos conheçam.
O ano passado, pela primeira vez, não compareci à consoada de família e fizémos a nossa consoada própria - a da nossa família - em casa, com os miúdos e a família da J., almocei no dia seguinte, sozinha com a minha família. Mesmo assim senti-me parcelada, porque fiquei com um peso na consciência por não ter jantado com os meus pais, principalmente com a minha mãe. E porque, mais uma vez, senti-me sozinha no almoço de dia 25, a tentar enquadrar-me na minha própria família de sangue... Quem já passou pelo mesmo conseguirá entender isto de que eu falo, é uma sensação de ET que nos atinge, porque em nenhum dos lados vamos sentir plenitude, vai sempre faltar qualquer coisa...
Este ano não temos os miúdos connosco, a casa está quente graças à lareira e aos cães. A minha mãe não vai passar o Natal comigo, não vamos ter mais o cheiro delicioso do arroz doce acabado de fazer e da disputa pelo tacho, para o podermos rapar. Acabaram os 1001 petiscos que lhe saiam das mãos, desapareceu todo o calor que nos unia. Sobra o meu pai, os meus irmãos, cunhados e sobrinhos, sobra uma família cujos elos são cada vez mais ténues e transparentes, onde só me sinto enquadrada juntos dos meus sobrinhos. Mais uma vez vou passar o Natal sozinha, meia perdida e isso revolta-me, porque me custa sentir o que sinto, porque nunca consigo conciliar a realidade de dois mundos, porque a presença da J. me vai fazer falta, como sempre. Logo neste Natal, o mais frio de todos, o mais árido e emocionalmente stressante... Não é para sentirmos isto que existem as relações, creio... assim não faz o mínimo sentido, porque nõa há uma partilha total...
Estou triste, desoladoramente triste, porque precisava, este ano, de forças para iluminar o Natal, para apoiar o meu pai e de calor humano que não o meu, que se extingue em situações destas... É nestas alturas que me questiono porque é que as coisas têm que ser como são... Assim doem mais...

2008-12-22

Espiritus versus Anima

Espírito, já diziam os romanos, é o nosso lado masculino, o lado guerreiro e viril, o inconsequente e ousado, o que vai à luta, apanha e dá tareia, é, numa primeira análise, a nossa primeira esfera pessoal, o lado mais visível, o que é mais tentado e testado.

Alma, é o nosso lado feminino, a emotividade, as sensações, a poesia, a dor e o amor profundos, a que nos dá base e sustenta a nossa existência. Para se chegar a alma passamos por várias peneiras que diferenciam o essencial do acessório.

Ambas coexistem em nós, mulher/homem, acção/sentimento. Ambas fazem parte das pessoas que somos e, em primeira mão, damos a conhecer o nosso espírito guerreiro e orgulhoso, numa última entrega, abrimos as portas da nossa alma a quem é merecedor desse espaço.

A "Ego-sofia" é apenas a filosofia do eu, do ser, da essência, de quem somos e como nos traduzimos perante olhares alheios, da forma como temos a capacidade extraordinária de compatimentarmos a nossa existência e termos diversas facetas, uma multiplicidade de pequenos "eus" que nos permite distinguir quem somos em cada um dos momentos.

Chega uma altura em que nos cansamos desse jogo, mas em que prezamos mais o nosso eu íntimo (a alma) e que damos liberdade criativa ao nosso espírito para estar em todas as situações. Confuso ou não, este é um pensamento a reter: chega uma altura na vida em que aprendemos a seleccionar e a degustar e é importante sentirmos que abrimos essa porta, que avançámos mais um patamar neste ciclo de crescimento.

Cresci e estou curiosa para conhecer qual será a próxima paragem! :)

2008-11-20

Há muito para contar e desabafar destes últimos meses, mas talvez não existam palavras pertinentes e iluminadas suficientes para poderem ser utilizadas de forma legível e com cadência lúcida.
Hoje recordo-me de uma conversa passada há algum tempo, no meio de um dilúvio filosófico, que se gerou com esta pergunta:
Existe diferença entre alma e espírito?
90% das vossas respostas serão de carácter religioso. Preciso que me falem dos outros 10%. Olhem para dentro de vocês e questionem-se: onde está a vossa alma e onde está o vosso espírito? São a mesma coisa ou não? Se não, são complementos ou antogónicos?
É um bom exercício de ego-sofia. Deixo-vos a pensar.