Label FM

2009-03-17

Passado

As ondas hertezianas aqui do local de trabalho são as da RFM (podia ser pior...) e, neste exacto momento, irrompe a Brandi Carlile com "the story"... Gosto desta música desde que a ouvi pela primeira vez na televisão, num anúncio qualquer (ficou a música, desapareceu a marca...) e desde essa altura que tenho um misto de prazer/dor ao ouvi-la... Que dicotomia esta... Já diria o poeta Catulo: Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris? Nescio, sed fieri sentio et excrucior. Se bem me lembro dos dias passados na faculdade, traduz-se genericamente assim: "Amo e odeio. Porque é que o faço, perguntam-me. Não sei, mas é o que se passa e arde-me". O contexto é completamente do distinto do meu, mas aplica-se-me que nem uma luva de pelica, daquelas com que se iniciavam os duelos...
Talvez porque do passado recente esta música marque os dias de angústia que passei a despedir-me da minha mãe.
Tenho saudades tuas... faz-me falta o telefonema diário entre as 20H00 e as 21H00 e as perguntas banais de quem queria fazer parte da minha vida. Por estranho que pareça hoje és-me mais presente, mas de uma forma diferente... Não sou religiosa, não existe em mim um pingo de espiritualidade que me leve a dizer "até já". Para mim o fim é um ponto final e, talvez por isso, tenha tentado encontrar essa esperança que é a fé nestes últimos meses mas, por mais portas que abra sou dona de um cepticismo do tamanho de mim própria e nem voltar ao cemitério depois de cinco meses mexeu comigo de uma forma transcendente...
Nestes últimos dias acho que me ia saber bem poder ir a casa, sentar-me e falar um pouco contigo. O teu exemplo de mulher e pessoa sempre me inspirou e ia saber-me bem ouvir-te, mesmo com a imensidão de coisas que sempre nos separaram... Agora, parece-me, cabe-me seguir-te as pisadas e encostar-me aos teus ensinamentos e a tudo aquilo que me é próximo e confortável.

Vaya con Dios

Se existem músicas que são transversais na minha vida, esta - ou qualquer uma outra - dos Vaya con Dios é uma delas. Adoro a musicalidade e a cadência e, ao vivo, o espectáculo c'est magnifique! Atrever-me-ia a dizer que ao vivo batem a gravação em estúdio!
Aconselho à mínima oportunidade!

2009-03-16

Em tempos (idos, muito idos!) participei num projecto em que, a várias mãos, escrevemos um livro. Foi uma das experiências mais interessantes pela qual passei e sempre achei que seria por aí o meu caminho: pelas letras, pelos cafés e tertúlias, pelas horas perdidas imersas nas palavras e pelo grato prazer de criar... Hoje olho as palavras com um respeito desmedido e sinto uma incapacidade atordoante que tolhe os gestos e as vontades... Depois de 10 anos voltei a rabiscar e isso está a fazer-me bem! Volto à purgação infalível destas milhentas sensações com as quais muitas vezes me engasgo e isso dá-me um prazer para lá do explicável!

A arte do "apagão"

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Fernando Pessoa

2009-03-14

Será dos 30?

Dou por mim a ter saudades do passado e a olhar para certas decisões pretéritas e a questioná-las veementemente, a perguntar-me onde estaria agora se tivesse seguido noutra direcção e se estaria mais feliz, ou menos feliz. Tenho essa utopia: a de ser feliz, mas é como se essa sensação, quando agarrada, logo de mim fugisse ou então corro que nem louca atrás dela, ao ponto de já nem saber quem sou, porque insisto em achar que se fizer alguém feliz, serei feliz, e isso, meus caros, é uma premissa muito errada!... Os outros não se questionam sobre isso! Há demasiado para resolver e eu sem força ou paciência para arregaçar as mangas e encarar a realidade.
No passado jamais me imaginaria quem sou hoje e não sei se isso é bom ou não... há uma centelha de orgulho no percurso, porque fui boa em tudo o que fiz e nelas coloquei todo o meu melhor. Já fiz tantas coisas que nem tenho paciência para dissecá-las! Sempre houve o fulgor da juventude para aguentar e para continuar a lutar, mas neste momento sinto que tenho que parar na estação de serviço desta auto-estrada e respirar fundo, para saber ao certo a que tudo isto me leva e quem isto tudo me tornará, se está suficientemente próximo dos meus limites pessoais de conforto e prazer. Ou mesmo para saber que limites são esses!
Não sei se as minhas preocupações actuais com bancos, encomendas, clientes, facturas, calculadora, dinheiro e crise são as ideiais... desgastam-me enormemente e sinto-me cansada e sem inspiração. Deito-me com números, acordo com números! Dou por mim a questionar-me que tipo de pessoa sou, por causa do meu percurso tão díspar: a pessoa versátil que faz qualquer coisa e vai passando por projectos giros e diferentes, ou a pessoa que ainda não encaixou em nada do que fez e se limita a pular até acertar... Esta é uma questão pertinente, porque sinto-me a entrar na fase do "salto" e do pensar o que seria fazer outra coisa qualquer! Sinto falta da poesia!
Preciso, realmente, de paixão, em todas as vertentes da minha pessoa e como por mim própria ainda não me consegui apaixonar (infelizmente), vou projectando esse vazio em outras pessoas ou outras situações e acontecimentos. O problema é quando não consigo tirar paixão das coisas e elas começam a ser amorfas e desenquadradas... É por aí que ando, numa espécie de balanço de 30 anos de vida, a querer que a minha sombra se decida por mim, porque eu não o quero fazer!
No fundo resumir-se-ia, como qualquer psicanalista básico me diria, à questão da idade, de esta ser uma fase de amadurecimento completo em que de facto somos adultos e temos que encarar as responsabilidades, os problemas e tudo o mais por conta própria! Mas este barco está difícil de bolear... Entendo que temos que abdicar de coisas para conquistar outras, mas as coisas de que abdico fazem-me falta e são-me tão inerentes que me começo a desconhecer... Não há acordo possível entre as partes! Falamos sempre da adolescência mas nessa altura podíamos fazer e desfazer quase sem consequências, agora a fase dos ensaios está a terminar e a sedimentação está-me a custar um pouco porque me sinto desamparada e sem conseguir explicar isto a ninguém de forma menos ridícula, que é o que eu acho quando verbalizo, melhor, é o que me fazem sentir. Já diria Pessoa: "todas as carta de amor são ridículas!", ou foi o Campos?! Até isso, essa minha outra faceta, vou deletando.
Sobra-me este blog, a tornar-se rapidamente um muro de lamentações, mas que tem a vantagem de ser mudo e de ser grátis, dispensando psicanálise e terapias!