Label FM

2008-06-12

Acordo ou Aborto?

Ora bem, a temática que por aí anda em voga (retirando-se do mapa os camionistas e o Euro) será, nos círculos mais intelectuais, esta nova reforma do Acordo Ortográfico nos PALOP's. Esta reforma, que há mais de 15 anos é falada, pelos vistos está a ganhar contornos cada vez maiores de andar para a frente.
Querem a minha honesta opinião? É um pau de dois bicos!
É necessária a reciclagem da palavra escrita de quando em vez, se não ainda estaríamos a debater como se escreveria "pharmácia", porque a linguagem oral tem uma preponderância imperativa sobre a escrita. A linguagem escrita tem e deve adaptar-se à fonética oral (forma como a palavra é gerada em som) e ser simplificada. Desde que o Tempo é Tempo que a oralidade é a nossa maior expressão e é por essa via que as culturas mais têm evoluído, inclusive somando novos sons para novas realidades.
Neste blog, Em defesa da Língua Portuguesa, poderão encontrar grandes vultos da Linguística portuguesa a debater este mesmo tema, de forma muitas vezes mais teória e intricada, mas bem pertinente. Vale a pena ler pelo carácter científico.
Se não quero pensar que vamos moldar a nossa língua a questões comerciais com o Brasil (maior facilidade de sermos invadidos pelo mercado editorial brasileiro), também convém ressalvar uma questão pertinente que até agora ainda não vi ninguém focar... qual é o português mais puro? O de Portugal ou o do Brasil? Huuummmm... pergunta difícil!
As nossas "barreiras" linguísticas com o Brasil não são, de todo, as ortográficas, nem as gramaticais, são mesmo as orais, os significados múltiplos para uma mesma palavra. E isso, meus caros, vai sempre acontecer porque, querendo ou não, são culturas e povos diferentes. Falo do Brasil porque é o "gigante" de que toda a gente fala. Afinal são 160 contra 10 milhões!
Mas, voltando, e por muito que nos custe a admitir, o português brasileiro é bem mais genuíno do que o nosso português europeu. O uso do gerúndio, por exemplo, é um exemplo típico das marcas que ficaram do português renascentista e, inclusive, do liberal. O português brasileiro mantem-se, na sua génese, mais puro do que o nosso que, por razões políticas como as invasões francesas e outras, obrigaram o português europeu a "afrancesar-se" e, no início do séc. XX a "inglesar-se". O Português, como toda a gente sabe, deriva do Latim e, para exemplo, enquanto nós dizemos "autocarro" os brasileiros dizem "ônibus". A palavra "autocarro" é uma invenção nossa, mas "ônibus" manteve-se fiel ao latim, sendo uma versão melhorada da expressão "omnibus" que se traduz em "para todos". E assim é: um autocarro é para todos, que outra designação lhe dariam os romanos? Na prática a língua de Camões estará mais para os brasileiros do que para os portuguesses!
A questão então não passa por abandalharmos a nossa Língua, que nós próprios já a abandalhámos mais ao longo dos séculos do que os brasileiros, passa por termos cuidado em preservar o que é nosso culturalmente. Um "facto" é e será sempre um "facto", ao passo que "fato" é roupa, para um brasileiro "fato" é "facto" e "terno" é "fato", porque é composta por 3 peças. Curiosa a língua, não é?
Ora, mas se perguntarem se concordo com este Acordo, terei que responder que não. Os ingleses não tiveram que chegar a acordo nenhum para que se entendesse entre eles, certo? Mas não, em vez de serem limadas arestas (que têm e devem ser limadas), quer-se chegar a uma hegemonia impossível de obter porque, e repito, cada cultura é uma cultura e isso deve manter-se inalterado.
O que me parece que está a acontecer é que se está a tentar chegar a um ponto em que errar a ortografia seja menos grave do que é. E isso sim, é grave, muito grave, porque que não sabe ler e escrever muito menos sabe falar. A aprendizagem da Língua é tão importante como aprender a andar, porque só o conhecimento desta é que nos permite compreender tudo o resto.
Enfim... o Português é uma língua única no mundo pela diversidade que contém. É a língua mais difícil de aprender pela grande diversidade fonética, dado que utilizamos todas as potencialidades do nosso espectro vocal para comunicarmos, ao contrário das outras línguas, daí ser muito fácil para nós aprendermos línguas estrangeiras: dominamos qualquer tipo de sons e temos maior capacidade de reproduzir o que ouvimos, pois não estamos a fazer nada de novo. Já gramaticalmente são mais as excepções à regra do que quase as regras! Temos uma Língua extremamente rica e, ao mesmo tempo, duramente complexa para os estudiosos. Porque é que o plural de "mão" é "mãos" e o de "pão" é "pães"?! Esta é uma questão que ainda hoje deve afectar um colega meu de escola primária que não conseguia entender as excepções. Olhem, esta é uma palavra que deve ser reciclada, que é que ainda lê aquele "p" manhoso?!
Que se preserve este património primeiramente pelo respeito que lhe devemos diariamente, os Acordos terão sempre que existir, devemos é resistir quando sentirmos que a nossa unicidade cultural está a ser colocada em risco (e até agora ainda não assisti a provas evidentes disso), apesar de se estar a chegar ao ponto em que o nível começa a descer ameaçadoramente...

4 comentários:

g disse...

Agradável supresa, um bom regresso.
Quanto ao acordo, parece-me que temos muito que estudar para o acompanhar.

Sweet Cow disse...

Hindependentemente do aquordo, è çó mesmu para diser que gustei du teu novo poizo!
Vou aqueresssentarte há minha lista :o)
Beijoquas para tôdos e tôdas

...dina disse...

g: Obrigada! Quanto ao estudar... já o estudei demasiado e enjoei! ;P

...dina disse...

sweet maaaariaaa: E pergunto eu: quando é que se decidem a ir jantar a nossa casa?!?!?!?!?!?!?!?!